A agressividade infantil é um assunto bastante amplo e podemos notar
suas raízes desde o início das relações das crianças ainda na educação
infantil. Precisamos inicialmente, discernir o que é inerente à determinada
faixa etária ou sexo e o que está fora dos padrões esperados pelos mesmos.
Na educação infantil, passamos basicamente por duas delas: Uma que vai
do nascimento aos dois anos de idade. Nesta fase a criança se utiliza
basicamente dos sentidos para conhecer o mundo. Tudo aqui acontece por reflexos
e a criança leva tudo à boca; A outra fase que vai dos 02 aos 07 anos onde a
criança começa a adquirir noções de tempo, espaço. Ainda não há raciocínio
lógico e as ações para ela ainda são irreversíveis.
Uma criança que morde o amiguinho até dois anos de idade, não pode ser
rotulada como agressiva. Ela ainda não sabe usar a linguagem verbal e a
linguagem corporal acaba sendo mais eficiente. A intenção da criança, ao morder
ou empurrar, é obter o mais rápido possível aquele objeto de desejo, já que não
consegue verbalizar com fluência. Esta fase de disputa é natural e quanto menos
ansiedade for gerada, mais rápida e tranquilamente será transposta. É claro que
o adulto não deve apenas assumir a postura de observador e sim, interferir
quando necessário, evitando que se machuquem, e explicando que a atitude não é
correta. Enfim, impondo limites!
É essencial saber discernir quando um comportamento agressivo é
passageiro, ou se pode ser considerado como um transtorno de conduta, caso em
que é necessário um acompanhamento de especialista para auxiliar a sanar o
problema. Se não dermos a devida importância nesta fase essas atitudes poderão
evoluir de forma prejudicial na adolescência e vida adulta, podendo transformar
a criança em agente ou alvo de Bullying (tipo de comportamento que sempre
existiu, e que recentemente foi batizado com um nome. Não existe uma tradução
precisa para o português. Refere-se a todo tipo de comportamento agressivo que
ocorre sem nenhuma razão aparente).
Muitas crianças recebem apelidos relacionados a aspectos físicos e
desempenho (gordinho, vara pau, zarolho, burro, chato, etc.). Aqui o papel do
professor é essencial ao identificar e trabalhar com esses aspectos evitando
que se repitam. A dramatização é uma ferramenta excepcional para fazer com que
as crianças vivenciem papéis.
Essencial ainda é discutir sempre as experiências depois de
dramatizadas. Criar regras elaboradas em conjunto também é uma ferramenta
eficiente. Quando as próprias crianças criam as regras elas ganham um
significado maior e têm um grande impacto nas ações. Deve-se também trabalhar
valores morais éticos como solidariedade, compartilhamento, cooperação,
amizade, reciprocidade dentre outros. Se o professor cria um ambiente com
atividades prazerosas durante todo o período de aula, a probabilidade de que
comportamentos agressivos surjam é muito menor.
Em casa os valores morais devem ser ensinados e respeitados por todos, também
se deve construir as regras da casa, que igualmente devem ser respeitadas por
todos. As regras trazem para as crianças um ambiente menos instável, elas
passam a se sentir mais seguras. O limite na educação dos filhos é parte
essencial para o desenvolvimento saudável da personalidade.
Outro fator importante é que muitos pais por não desejarem ver os filhos
sendo alvo de agressões, os impelem para revidar a agressão sofrida, geralmente
dizem: - “se você chegar apanhado em casa
vai levar outra pisa”; o que deixa o ciclo vicioso da agressão ativo. Se
quisermos formar uma cultura de paz, temos que deixar de lado algumas coisas
que vem sendo transmitidas de geração após geração e construir um novo modo de
pensar o mundo e as relações na escola, no trabalho, na família e na
comunidade.
Lembre-se: a agressividade só deve ser tratada
como um desvio de conduta quando ela aparecer por um longo período de tempo e
também se não estiverem ocorrendo fatos transitórios que possam estar causando
os comportamentos agressivos. A personalidade da criança forma-se até os seis
anos de idade e por isso, toda experiência e sua qualidade vividas nessa fase é
de fundamental importância. Por mais que, às vezes, possa parecer ineficaz,
elogio, afeto, prazer e compreensão tem resultados muito mais rápidos e menos
estressantes do que bronca, castigo, sofrimento e indiferença.
É muito importante detectar e combater o comportamento agressivo ainda
na primeira infância, pois quando criança não encontra obstáculos ou alguém que
a alerte mostrando que não é um comportamento adequado, ela percebe que
consegue liderar e tirar proveito destas situações e no futuro certamente
tornar-se-á um agente do Bullying e muito provavelmente um adulto violento.
Já que criança aprende por imitação, temos que rever nossos conceitos e
agir com racionalidade, deixando qualquer tipo de violência (física,
psicológica, verbal) do lado. Afinal, quem deveria saber o que é certo e errado
são os adultos e não as crianças que ainda estão crescendo e formando sua
personalidade. Que futuro queremos para
nossos filhos e nosso país? Ao transferirmos a responsabilidade dos atos
das crianças única e exclusivamente para elas, estamos abrindo um leque de
possibilidades para que no futuro elas possam se tornar violentas. Afinal elas
são seres em desenvolvimento físico, psíquico e social.
(Antônio Roberto)
Adaptado
por Fabiana Soares
Psicóloga
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