Dormir na cama dos pais, quais as consequências para o
desenvolvimento da criança?
Seja por medo,
comodidade ou apego compartilhar a cama com os filhos, apesar de muitos pais
negarem, é mais comum do que se imagina. Um estudo britânico revelou que 40%
dos pais deixam as crianças passarem a noite junto com eles. Não existem
estatísticas sobre esse assunto no Brasil, mas os pediatras acreditam que a
situação seja frequente por aqui também.
"Acredito que isso tem aumentado porque,
com os pais fora de casa, o contato com as crianças é menor atualmente",
diz Gelsomina Colarusso, neuropediatra. Assim, ficar juntinhos de noite é uma
maneira de compensar essa ausência, resolver alguns problemas (se a criança
tiver medo de escuro, por exemplo, ou os pais muito cansados para levá-la de
volta ao quarto) e, claro, de matar a saudade.
No caso do recém-nascido, que demanda muitos
cuidados e atenção, é natural que os pais o coloquem para dormir no quarto com
eles, o que também facilita na hora de amamentar. É uma fase de dependência
total, em que mãe e bebê estão se conhecendo e requer mais observação. A mãe
tenta se adaptar as necessidades do bebê, permanecendo inteiramente a sua
disposição. O fato de ser mais cômodo ter a criança ao seu lado para qualquer
eventualidade faz com que muitos casais adiem a ida da criança para um quarto
ou até mesmo uma cama só sua – no caso de casas que têm poucos cômodos.
Apesar de ser
prazeroso dividir a cama com os filhos, como você já deve suspeitar, há riscos.
A pediatra Márcia Pradella-Hallinan, coordenadora do setor de pediatria do
Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), faz algumas
ressalvas. "A divisão da cama pode restringir os movimentos do bebê",
afirma. Além disso, diz Mauro Borghi, pediatra do Hospital São Luiz (SP)
pode-se machucar ou até sufocar a criança. “É contraindicado em qualquer
idade”, enfatiza. Isso sem contar o quanto o sono do casal fica prejudicado.
O que também preocupa os especialistas são os danos ao desenvolvimento emocional das crianças. Para a pediatra Márcia, da Unifesp, dividir a cama com os filhos pode deixá-las mais dependentes. Outra crítica diz respeito à vida a dois. Se, por um lado, a cama familiar aproxima pais e filhos, pode interferir na intimidade e, assim, no relacionamento do casal. Dessa forma, alguns conflitos familiares podem surgir tornando a hora do sono uma batalha.
O que também preocupa os especialistas são os danos ao desenvolvimento emocional das crianças. Para a pediatra Márcia, da Unifesp, dividir a cama com os filhos pode deixá-las mais dependentes. Outra crítica diz respeito à vida a dois. Se, por um lado, a cama familiar aproxima pais e filhos, pode interferir na intimidade e, assim, no relacionamento do casal. Dessa forma, alguns conflitos familiares podem surgir tornando a hora do sono uma batalha.
O que fazer para favorecer um desenvolvimento saudável aos
filhos?
Passada a fase na qual o bebê é considerado recém-nascido, em torno dos quatro meses, é preferível que ele durma em seu próprio berço, em um quarto separado dos pais, para que aos poucos, consiga estabelecer seu sono de maneira tranquila, permanecendo mais horas sem acordar. Nessa fase, o bebê já consegue esperar um pouco mais, e é importante que a mãe vá diminuindo aos poucos sua disponibilidade. Bebês que dormem com suas mães costumam acordar mais vezes durante a noite para mamar ou para ficar com ela, demorando mais para conseguirem dormir uma noite inteira e para estabelecerem um ritmo de sono mais tranqüilo.
A maioria das crianças passa por
uma fase, geralmente entre dois e cinco anos, que quer dormir com seus pais.
Para a criança, é muito importante que ela possa dormir em sua própria cama em
seu quarto, que pode ser dividido com seus irmãos.
Ela precisa ter um lugar de
intimidade, perto de seus objetos, com seu espaço delimitado separado de seus
pais. Esse espaço com suas coisas onde dorme enfatiza a idéia de que ela é
criança, não adulta e sua posição na família como filha e não como parte de um
casal ou no lugar de um dos pais. Para algumas crianças, ao ocupar a cama dos
pais, elas também passam a querer dormir tão tarde quanto eles e a se imporem
cada vez mais, confundindo os papéis.
Além disso, a criança que dorme
com os pais pode pensar que é incapaz de dormir sozinha, o que é prejudicial
para sua autonomia e gerar mais dependência em relação a eles. Mais tarde, isso
pode atrapalhar na resolução de problemas cotidianos sozinha. A criança se
torna mais insegura com dificuldade de enfrentar seus medos.
Muitas vezes, os pais permitem ou
até estimulam que a criança durma com eles na cama. Isso está ligado a diversos
motivos como, por exemplo, dificuldades de imporem limites, cansaço, culpa por
achar que estão rejeitando a criança, pena porque se identificam com ela e se
sentem sós ou até para encobrir possíveis problemas de relacionamento do casal.
É muito complicado também quando
os pais não conseguem se posicionar e não estabelecem regras claras, oras
permitindo e oras recusando.
Também é muito comum nessa fase a
criança procurar a cama dos pais no meio da noite por causa de pesadelos.
Nesses momentos, é muito importante poder tranquilizá-la, acompanhá-la até sua
cama e ficar com ela até adormecer. Essa atitude passa para criança confiança
de que ela consegue dormir sozinha. Se nessas situações acontecer da criança
dormir com os pais, não tem problema, desde que estes estejam atentos a seu
papel de ajudá-la a lidar aos poucos com esses medos sozinha e a dormir na
própria cama.
Poder
dormir sozinha significa que a criança está se tornando mais autônoma e
independente emocionalmente, que começa a lidar com seus sentimentos de
agressividade e que se sente segura mesmo estando distante de seus pais.
Mas nada de
radicalismo se você tem uma criança dormindo em sua cama. A transição deve ser
feita de forma gradual. Lembre-se de que o pai ou a mãe deve ficar ao lado da
criança, numa cadeira, por exemplo, até ela adormecer. E repetir o processo
sempre que o filho acordar. Um quarto aconchegante, um objeto de transição
(como um ursinho ou paninho) e uma luz fraca para espantar o medo do
escuro também ajudam, junto com muita paciência e persistência dos pais.
Adaptado por
Fabiana Soares
Psicóloga
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