terça-feira, 27 de março de 2012

Saudade


ESPERANÇOSA ELEGIA POR JORGE RODRIGUES

 
Lindolfo de Lisboa, Avani Lopes, Nivaldo Pereira, José Romildo, minha mãe Maria José Tavares e agora Jorge Rodrigues... Mais um desfalque na inteligência santacruzense. Minha cidade está ficando mais pobre de vida inteligente a cada ausência que se consuma. As cabeças pensantes da minha geração andam sumindo numa velocidade alarmante...
O telefonema de Emanuel nos últimos minutos deste domingo, me informando da nefasta novidade, apanhou-me de surpresa: se não é fácil aceitar o fim anunciado por insistente doença, muito menos o é quando não se faz anunciar – beira o inacreditável.
Como admitir que Jorge Luis Mendes Rodrigues não mais existe? Ele, com todos os seus sonhos e desejos de ver a cultura florir em nossa Santa Cruz do Capibaribe, fazendo o seu possível para a consecução desse sonho, nos caminhos profissionais percorridos. A Escola Padre Zuzinha, que nos recebe, tristes, nesta fatídica segunda-feira, foi seu palco e seu campo de batalha, onde brilhou e lutou ferrenhamente na formação de gerações de alunos.
Discípulo do nosso mestre Lindolfo de Lisboa, assim como eu e tantos outros mais, Jorge por ele foi influenciado, no jeito de pensar, de escrever, na ênfase com que defendia seus pontos de vista, na fina ironia com que colocava seus argumentos. Como não ser assim, tendo convivido com o grande professor Lindolfo?! Este, aliás, me falou várias vezes do orgulho que sentia pelo homem inteligente e perspicaz em que Jorge se transformara, espécie de menino-prodígio que fora, desde cedo.
Conversei com Jorge quando do falecimento de Zé Romildo; dizíamo-nos, um ao outro, da preocupação por conta do desaparecimento de pessoas capacitadas para fazer um consistente registro da História da Terra das Gameleiras, e da necessidade de sentarmo-nos para dar início a essa empreitada o mais breve possível. O possível não aconteceu, envolvidos que estamos com tantos afazeres, e agora o meu parceiro de ideias também sumiu. Assim como a Marilice Lopes, estou me perguntando como realizar o projeto sem sua imprescindível participação...
Resta-me, então, em meio a tantos lamentos, evidenciar minha dor mas também minha palavra de carinho e conforto a essa família que há tanto tempo faz parte da minha vida. A Suely e Emanuel, que foram meus alunos em duas gerações diferentes, e se tornaram amigos fortes, e aos demais familiares, a certeza de que a vida que se foi não foi em vão; isso é o mais importante nisso tudo – mais do que a saída inesperada de Jorge de nossas vidas.
E a todos nós, resta pensar sobre a última lição do mestre Jorge Rodrigues, a de que é preciso viver com a intensidade de quem conseguiu domar a vida, dando-lhe o ritmo adequado à felicidade, sem pressa mas sem letargia. Como enfatizam as palavras do grande poeta Renato Teixeira, que emoldura o perfil de Jorge, no Orkut: "ANDO DEVAGAR PORQUE JÁ TIVE PRESSA. LEVO ESSE SORRISO PORQUE JÁ CHOREI DEMAIS..."
Pode sorrir tranquilo, amigo: sua caminhada rendeu frutos “cem por um”, e muito mais renderá.
Paz e Bem!
Edson Tavares

Nenhum comentário:

Postar um comentário